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quinta-feira, 25 de outubro de 2012

"Jesus aburguesou-se" - Texto interessante

"É uma pena. Uma perda. Mesmo, não estou a brincar. Dava gosto ver Jorge Jesus quando chegou ao Benfica: a pastilha marota mastigada de boca aberta, o cabelo revolto com madeixas ainda pouco definidas, as rugas rudes, marcadas e agrestes, a roupa mal amanhada. E as corridas desconcertantes, os palavrões e os insultos aos jogadores durante os jogos? Lembram-se? O Cardozo falhava um golo de baliza aberta e Jesus explodia; o Di Maria punha-se a inventar mais do que devia e era posto na ordem; o Aimar – sim, até o Aimar – não corria como os outros e Jesus mostrava-lhe furiosamente como se fazia ao longo da linha lateral. Ele espumava com o jogo. E os adeptos, numa espécie de orgia salivar, espumavam consigo.

Para os benfiquistas, aquele homem estranho e egocêntrico era a resposta a anos de letargia e vazio. Havia ali força, paixão, nervo. É verdade que não era um cavalheiro, mas um bom treinador não tem de ser um mestre do protocolo – ele próprio o sublinhou, quando confrontado pelos jornalistas com a sua, digamos, dificuldade ligeira em articular duas frases em português correto.

Joachim Kugler, psicólogo alemão da Universidade de Ruhr, estudou o comportamento de treinadores de futebol durante um jogo. E chegou a conclusões que ajudam a explicar o fenómeno Jesus. Kugler constatou que no sangue dos treinadores de topo há níveis particularmente elevados de hidrocortisona, a hormona responsável pelo stresse. O maior pico de concentração regista-se pouco antes do fim da primeira parte – nessas alturas atinge valores comparáveis aos de pára-quedistas novatos antes do seu primeiro salto. A forma como, durante o intervalo, os treinadores conseguiam gerir a presença intrusiva desta hormona era fundamental para preparar os jogadores para o que restava do jogo.

Jesus sabia trabalhar em stresse permanente. E conseguia contaminar os seus jogadores com essa faculdade. Eles acreditavam - mesmo quando tudo parecia estar perdido; eles corriam - mesmo quando a bola já não estava manifestamente ao seu alcance; eles ganhavam - mesmo quando os adeptos já começavam a abandonar o estádio.

Passados três anos, tudo mudou. Nas suas míticas flash interviews, Jesus já não diz “hádem” ou “póssamos”, passou a vestir fatos impecáveis, aprimorou o cabelo, arranjou os dentes e terá feito, segundo o Correio da Manhã, várias plásticas à cara e aplicado botox. Aburguesou-se. E, com ele, arrastou a equipa. Na última terça-feira, quando olhavam para o banco, os jogadores do Benfica já não viam aquele personagem vibrante que há três anos lhes gritava furiosamente e os obrigava a correr e a ganhar. No seu lugar, encontrava-se o novo senhor Jorge, o cavalheiro que um dia, numa das suas épicas entrevistas, se definiu justificadamente como uma espécie de Paula Rego do futebol – de facto, o Benfica jogava bonito. Para grande tristeza dos benfiquistas, desse Jesus resta apenas a sua inseparável pastilha, porque a pintura, que é o que mais conta, está irremediavelmente desfeita. Só Luís Filipe Vieira é que ainda não percebeu."

Escrito por: Fernando Esteves/Editor da Sábado em Record

1 comentário:

  1. No que diz respeito ao nosso Benfica, eu não me revejo nas publicções ou comentarios, que são feitas pelo jornal Record.
    No entanto reconheço certa, a analise a esta "pastilha" .

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