Portugal 14
de Julho de 2014
Acabou o Mundial de 2014, com uma
vitória merecida da Alemanha, como também seria merecida se fosse a Argentina a
ganhar. Duas grandes Selecções, dois
tipos de jogo que tiveram tanto de distinto na forma como procuraram a baliza
adversária, como de igual na vontade de ganhar.
Esta final permite-nos tirar
algumas conclusões que se adaptam às finais que o Benfica disputou na Liga
Europa, uma perdida com 1 golo aos 92 mn, outra perdida nas grandes
penalidades.
Uma grande realidade é que os
jogadores estavam cansados pela sobrecarga de jogos efectuados durante a prova,
acumulando com os jogos das equipas que representam. Mesmo considerando que
tiveram um período sem competição, para estagiar e prepararem a prova, o cansaço foi sempre uma variável do
rendimento desportivo das equipas.
Quando chegou às duas finais
europeias, o Benfica também fez um enorme trabalho nesta matéria, conseguindo conciliar o rendimento
desportivo nas restantes provas com as etapas vencidas no caminho para essa
Final. De onde nunca se poderá deixar de sublinhar que chegar à Final é só para os melhores. Daí ninguém poder tirar
mérito ao Benfica de Jesus.
Em relação à Final do Mundial,
tivemos alguns dos melhores executantes do Mundo, e como se viu ganhou uma Selecção
que não tem o “melhor do mundo”, o que vende mais champô Linic ou que muda mais
vezes de visual. Mas foi a Selecção de
uma Federação que soube estruturar-se para a prova, escolhendo a melhor
equipa técnica (apesar dos falhanços no Mundial 2010 e Euro2012), os que
consideraram ser os melhores jogadores, que adoptaram uma estratégia de
abordagem da prova em função das suas especificidades (calor, temperatura, número
de jogos), que pensou no que de facto iam fazer e que no final foram bem
sucedidos porque pensaram, planearam e
executaram melhor que todos os
outros.
Justo será referir que também
podia ter ganho a Argentina, se Higuain ou Messi tivessem marcado primeiro,
quando dispuseram de oportunidades que não surgem muitas vezes neste tipo de jogos.
Numa situação de desvantagem e perante uma Selecção que defende bem, que faz do
processo defensivo a sua forma natural de jogar, não teria sido fácil à Alemanha
dar a volta ao jogo. Contudo a especulação não leva a lado algum, ganhou quem
marcou e quem marcou foi a Alemanha, naquele que para mim é o golo do torneio. Porque é um golo de execução difícil e porque
valeu o título.
Voltando às Finais perdidas pelo
Benfica, devemos notar que contra o Chelsea de 1 só ponta de lança, fomos uma
equipa de propensão ofensiva com 2 pontas de lança (Cardozo e Lima) na táctica
do 4-4-2 em losango. Contra o Sevilha também de 1 só ponta de lança, jogamos
novamente em 4-4-2 em losango, mas a cobertura defensiva que dão Lima e Rodrigo
foi superior à que deu o modelo do ano anterior.
E se podemos dizer que Di Maria
fez muita falta à Argentina, porque é um jogador explosivo, que faz bem o um
contra um, arrastando jogadores adversários e com isso libertando espaços para
os colegas de equipa poderem atacar e rematar à baliza, que dizer da ausência de Sálvio e Enzo Peres da 2ª final do Benfica
contra um adversário na máxima força? Pois é... Era muito mais difícil...
A final do Mundial teve poucos
erros de arbitragem, e os poucos que existiram foram de natureza disciplinar.
Mesmo assim, as duas grandes Selecções lutaram, correram, igualaram-se numa
luta que só foi decidida a 7 mm do final do prolongamento. E se o árbitro
tivesse perdoado dois penaltys claros contra a Alemanha como perdoou o árbitro alemão contra o Sevilha? Pois é... Seria
ainda mais difícil conseguir ganhar...
Ganhou a Alemanha! Viva o futebol bem planeado...
Uma palavra final para os
comentários de Rui Costa que roçaram a excelência, pela sobriedade, conhecimentos e respeito evidenciado pelo do futebol jogado
pelas duas equipas... Um exemplo a seguir pelos pivots das televisões, muitas
vezes mal informados daquilo que comentam, como se viu com Romero que não
pertence aos quadros do Mónaco, como disse o jornalista RTP, mas sim Sampdória,
como bem corrigiu Rui Costa.
Outra palavra para a eleição de
melhor jogador do Mundial. Apesar de ser apreciador de Messi, discordo da sua
eleição (não esquecer que falhou um golo “feito” ao mn 46 da 2ª parte). Na
minha perspectiva fazia mais sentido
eleger Mascherano por ter evitado o golo de Robben, na meia-final, em cima
dos 90 mn, desarme esse que permitiu à Argentina seguir para a Final. E também
pela excelente cobertura defensiva que deu à equipa, ajudando a que a Argentina
tivesse uma das melhores defesas com 3 golos sofridos na fase de grupos e mais 1
no prolongamento da Final. Os argentinos irão sentir a sua falta,...
Por último, o Brasil. Limitar o
insucesso brasileiro às opções de Scolari é redutor e vai continuar a manter o
Brasil em plano secundário face às grandes Selecções europeias. É preciso não
esquecer que este 4º lugar é a melhor
classificação depois da conquista do Penta em 2002 com Scolari. Seja por
7-1 ou por meio a zero, o Brasil tem sido sempre afastado das fases finais das
decisões dos últimos Mundiais. Se repararmos também na Copa Libertadores da
América, metade das equipas brasileiras saiu na fase de grupos, e a outra
metade saiu nos oitavos de final. O
Brasil tem de mudar o paradigma do seu futebol, caso contrário irá
continuar a perder protagonismo no futebol mundial. Devem procurar ter menos samba, mais rigor e mais pragmatismo
no seu futebol... algo que no Benfica, com excepção do samba, também deveríamos
procurar.