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quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

1ª volta: um balanço



Portugal 22 de Janeiro de 2015

Os acontecimentos no Benfica sucedem-se a velocidade estonteante e ora é o Bernardo Silva que foi vendido ao Mónaco, ora é o Jonatham que vai chegar por 6 milhões depois de ser anunciado por 3,3 milhões. A seu tempo falarei sobre isto.
A 1ª volta do campeonato nacional terminou com uma goleada de 4-0 em casa do renovado estádio do Marítimo, exibindo-se a nossa equipa a grande nível e na senda do que já fizeram em casa com o Guimarães.
Sobre a vitória sobre o Guimarães escrevi e mantenho: “finalmente vi a equipa jogar à bola e a dar indicações que as nossas principais expectativas, a conquista do campeonato, poderão não ser tão ilusórias como muitos pensam”. A exibição frente ao Marítimo confirmou esta certeza: as expectativas de sucesso no campeonato crescem de jornada em jornada.
Com 41 golos marcados e apenas 7 sofridos, o Benfica é a equipa com melhor goal-average do campeonato, apesar do jornal o JOGO, ter destacado nas 1ªs páginas o melhor ataque do FCP, que, pasme-se, até marca mais do que o FCP de Mourinho e de Villas-Boas! Bem, se descontarmos os vários golos em fora de jogo, se calhar não havia motivo para celebração na redacção desse jornal, mas esta é a outra realidade do futebol nacional: o branqueamento que a comunicação social faz dos erros de arbitragem direccionados a favor do FCP.
Curiosamente, a comunicação social lisboeta, em particular a BOLA e o RECORD, não conseguiram ver a relevância dos 7 golos sofridos, que é o segundo melhor registo defensivo na Europa do futebol, logo atrás do Bayern com 4 golos em 17 jogos. Também não viram que fomos campeões de Inverno, títulos e destaques que valem o que valem, mas quando é o FCP, todos ficamos a saber da importância desses números. Porque aí o critério redactorial é distinto...
Por qualquer tipo de obsessão que têm com Jorge Jesus, vá lá que se lembraram de sublinhar que esta é a melhor 1ª volta dos últimos 30 anos. Não é para desvalorizar: 30 anos são quase 30% de toda a existência do Benfica, o que quer dizer que JJ continua a fazer história e desta vez, com o plantel mais curto e mal estruturado no início do campeonato.
Como é que se chega a estes números fantásticos, de apenas perdermos 5 pontos em 51 possíveis? Dizer que o mérito é do treinador, é redundante. Passemos à “física” da táctica. Porque de facto parece-me que à actual equipa do Benfica se aplica o velho ditado “quem não tem cão, caça com gato” e por acaso, o gato tem sido mais eficaz do que o cão.
Passo a explicar: quando a equipa tinha os grandes jogadores que foram sendo contratados e outros que não sendo de nomeada foram aqui trabalhados para se transformarem nos grandes jogadores que daqui saíram, o esquema táctico do Benfica com 2 pontas de lança (Cardozo+Saviola ou depois Cardozo+Lima) e Aimar no meio campo (dois anos com Carlos Martins a apoiar), balançava a equipa para o ataque e a pressão à saída da defesa adversária. Era a tal pressão alta que resultava em muitos golos por cá e enormes “banhadas” nas competições europeias como a Champions (a 1ª Champions de JJ saldou-se em 6 pontos, 0-7 em golos marcados e sofridos fora de casa).
Os jogadores entravam e saíam, e o esquema táctico pouco mudava. Na 2ª Champions JJ descobriu que podia ser mais bem sucedido utilizando apenas um ponta de lança, Cardozo, descendo mais um homem para o meio campo. Ficamos em 1º lugar no grupo, alcançando depois os quartos de final. Mas JJ fez isso apenas nos jogos com o poderoso Manchester e foi feliz. Por cá continuou a apostar nos 2 pontas de lança, marcamos muitos golos, mas perdemos o título de campeão para o FCP e os erros de arbitragem.
Saindo Aimar por clara incapacidade, perdeu a referência criativa que erradamente privilegiou (como no fatídico jogo com o FCP perdido aos 92 mn, 8 mn depois da entrada em campo de Aimar) e foi obrigado a adaptar-se a Enzo. Depois desta troca ficamos a perceber que um jogador mais atlético e menos artístico conseguia ajudar a equipa a jogar de forma mais consistente e a ganhar mais.
E este ano, vendida a “carga preciosa” que este navio transportava, JJ teve de adaptar “gatos” ao lugar dos “cães”, encaixando a equipa mais atrás devido à movimentação oscilante de Lima entre o meio e a ala, o entrosamento de Jonas que se movimenta verticalmente e tem grande leitura de jogo, com Gaitan mais liberto e a poder pensar mais o jogo e a estar ais liberto de fazer pressão sobre o adversário, com o box-to-box do Samaris mais ligado à posição 6 sem deixar de apoiar na posição 8, etc, deixamos de privilegiar a pressão alta e a equipa tornou-se mais compacta fisicamente e por tabela, desportivamente. Com estes resultados que se conhecem.
E se há golo que ilustra bem isto, o 1º golo ao Marítimo é ilustrativo: o passe na diagonal para as costas da defesa do Marítimo só foi possível porque a sua defesa estava adiantada devido a termos o nosso bloco de meio campo mais recuado.
Sempre fui contra a pressão alta pelo que fico satisfeito por ver parte das minhas teses serem privilegiadas, por falta de outras opções é certo, e a darem bons resultados que irão conduzir-nos ao lugar que queremos.

E-goi