Portugal 13
de Agosto de 2014
No início dos anos 80 vi um filme
que em Portugal recebeu o título de “Benvindo Mr. Chance”, filme lançado em
1979 e que contou com uma interpretação soberba desse grande nome da 7ª arte, o
já desaparecido Peter Sellers.
O filme gira em torno de um cinquentenário
jardineiro muito humilde e muito simples, Mr. Chance, que depois de ser posto
fora da mansão do patrão, por falecimento deste, contactou casualmente com um
empresário que acabou por fazer dele um grande personagem dos Estados Unidos da
América, conseguindo inclusivamente que fosse eleito Presidente.
O que mais me marcou desse filme é
que o tal jardineiro apenas abria a boca para dizer frases curtas e muito
simples, pois era um homem sem cultura e sem experiência de vida (pois tinha
sido sempre jardineiro e vivido na mansão do patrão). E contudo, as pessoas que
passaram a privar com ele, fruto do conhecimento com o tal empresário, achavam
que ele era um génio de potencial incrível e acabaram por levá-lo a Presidente
dos Estados Unidos.
Este foi um filme de sucesso
razoável, baseado na ironia e na sátira à sociedade americana, do qual para
mim, o aspecto que retive foi que as
pessoas liam nos lábios de Mr. Chance não o que ele de facto dizia, mas aquilo
que elas achavam que ele era capaz ou tinha potencial para dizer.
Vem isto a propósito da gestão que
o Sr.º Vieira tem feito no Benfica desde 2003, onde vejo muitas semelhanças com
Mr. Chance, sendo frequente debater o actual Benfica com outros adeptos e
sócios, não pelo que somos de facto mas por aquilo que ainda podemos vir a ser,
pois Vieira está a trabalhar para isso (segundo eles).
Nem os 13 anos de desempenho que
já leva à frente do Cube/SAD, primeiro como gestor depois como Presidente os
consegue convencer que há demasiadas
coisas que não batem certo com o “guião” que, como um bom aluno de
representação teatral, interpreta com grande concentração e devoção, evocando
não raras vezes o seu passado de pessoa pobre, que veio do nada e fez “fortuna
a partir do zero” (as palavras são dele).
Também aqui as pessoas (sócios e adeptos) vêem o que querem ver e não aquilo que de
facto é. A diferença é que o Sr.º Vieira é muitíssimo mais inteligente do
que Mr. Chance, e sabe aproveitar o momento com grande eficácia, ou não tivesse
muita gente a trabalhar com ele e para ele, neste suposto projecto.
Como por exemplo, a entrevista que
vai dar à “BêTêVê” (muito cuidado com o significado que tem a alteração de
Benfica TV para BTV, com todos os jornalistas da mesma a cumprirem o que lhes foi
indicado) onde será entrevistado por um
jornalista a quem paga o ordenado!
Esta é a forma como Vieira e seu staff fazem a avaliação da transparência do
Clube/SAD numa fase delicada do “projecto” saído da eleição de Manuel
Vilarinho (que funcionou como um autêntico Cavalo de Tróia de onde saíram
Filipe Vieira e todos os interesses que passaram a comandar o Benfica), onde
seria imperioso que os benfiquistas e desportistas em geral fossem esclarecidos
sobre o que se está a passar.
O desmembramento da equipa campeão abaixo da cláusula de rescisão
confere legitimidade às interrogações sobre os reais interesses de um
“projecto” com 14 anos! E faz recuperar” outras questões que ninguém percebeu bem, como por
exemplo, o que ele queria dizer quando
falou do “milagre económico” ou do “sabemos para onde vamos, é difícil mas
iremos lá chegar”, já para não recuar no tempo e perceber o que e queria
dizer com “Mantorras vale 18 milhões de contos” e em 2003 “daqui a dois anos
estaremos a dar cartas na Europa do futebol”.
Obviamente que não iremos ser
esclarecidos e que a dita entrevista apenas
servirá para branquear a ruinosa gestão que tem sido levada a cabo desde
Novembro de 2000 (desculpem lá, mas o passado não se apaga). Não será uma
entrevista para o Presidente ser confrontado com os sucessivos erros de gestão
desportiva e financeira, ou vice-versa, será uma entrevista que o Presidente
irá aproveitar para explicar porque fez o que fez, mesmo que esteja a mentir, como
quando explicou que o ordenado do Siqueira inviabilizava a sua contratação,
desmentido pouco tempo depois pelo próprio Siqueira que assumiu nem se ter
falado disso.
Será uma entrevista do
“one-man-show” tão ao jeito dos fervorosos adeptos que vão às AG’s e vêem nele, não a razão do que se está a
passar (completa subalternidade futebolística para o FCP e esbanjamento de
centenas de milhões de euros em juros de empréstimos que ao Benfica servem
pouco) mas aquilo que eles acham que
ainda pode vir a acontecer de bom.
Para mim Vieira continuará a ser o homem que faliu quase todas as empresas
onde esteve como sócio ou accionista, excepto as que detêm em parceria com
os filhos. E só este facto, conhecido desde sempre, seria motivo para não lhe
terem dado todo o poder, como deram. Com consequências imprevisíveis....